Olá pessoal, tudo bom? Hugo Pascottini Pernet nasceu em 1990, no Rio de Janeiro. Formou-se em jornalismo pela PUC-Rio. Participou de algumas coletâneas, como Contágios, organizada pelo escritor José Castello, e Escritor profissional – Vol.3, ambas publicadas pela editora Oito e meio. Além disso, já publicou seus textos em sites e jornais de literatura. Integra o grupo literário Os Quinze. .
1 – Como foi que você começou a escrever? Quando decidiu encarar a escrita como profissão ?
R: Comecei a me interessar pela escrita literária por volta dos vinte anos, há sete anos, quando me tornei um leitor voraz. Desde aquela época, comecei a me inscrever em cursos de escrita criativa, sobre contos, romances, sobre qualquer assunto que pudesse me ensinar – ou apenas me apresentar – os caminhos de como usar as ferramentas da escrita para aprimorar meus textos literários.
Desde então, participei de algumas coletâneas de contos, principalmente, "Contágios", organizada pelo escritor e crítico literário José Castello. Após essa publicação, que ocorreu em 2016, comecei a encarar a escrita de forma um pouco mais séria. Coincidentemente, nessa época eu estava escrevendo o meu livro, "Memórias da infância em que eu morri", de modo despretensioso, sem pensar em publicação e suas consequências.Enquanto eu escrevia me concentrava apenas em desenvolver o melhor trabalho possível. Publicado o "Memórias da infância em que eu morri", com a boa aceitação e procura dos leitores, passei a encarar a escrita de forma mais séria ainda. Na verdade, tento - me esforço mesmo -encarar a escrita de forma não tão séria. Caso contrário, me sinto bloqueado para criar, ao pensar como meus textos serão recebidos pelos leitores, se haverá muita procura por eles. Tento, então, encarar a escrita como uma brincadeira seriíssima. Gosto de uma frase da Clarice Lispector: " Eu não sou uma profissional, eu só escrevo quando eu quero". Eu sou uma amadora e faço questão de continuar sendo amadora." Me sinto mais um profissional da escrita na parte da divulgação do livro, porque hoje, com tantos entretenimentos concorrentes (séries, filmes...), nenhum escritor brasileiro - com raras exceções - vende seus livros de braços cruzados. É preciso usar as redes sociais, dar entrevistas - como faço agora.
2 – Você classifica o seu livro uma auto – biografia ou um livro de ficção com informações reais ?
R: "Memórias da infância em que eu morri" é um pedaço da minha infância transformado em ficção. Trata-se de uma autoficção. Ou seja, no romance há fatos que realmente aconteceram e outros inventados por mim. Saber o que aconteceu, de fato, e o que é invenção faz parte do mistério do livro. Gosto de dar o exemplo do "Irmão alemão", do Chico Buarque. Nesse romance, o leitor não sabe distinguir o que de fato aconteceu na vida de Chico do que é fruto da imaginação do autor.
3 – Qual a reação da sua família quando você decidiu largar o emprego como jornalista para se dedicar ao seu livro?
R: Essa é uma pergunta complicada. Minha família, como a grande maioria das outras famílias, não recebeu, de modo positivo, minha notícia de largar o jornalismo para me dedicar mais à escrita literária. Foi um período difícil para eu explicar aos meus pais que eu estava exausto da rotina de repórter em uma revista, que eu, na verdade, queria continuar como um profissional da comunicação. No entanto, me comunicaria com leitores a partir de uma voz que somente pertenceria a mim, a nenhum outro escritor, diferentemente dos textos jornalísticos, em que os repórteres seguem um padrão de escrita. Mas compreendo o ponto de vista da minha família: é o tal discurso do trocar o certo pelo duvidoso.
E o que é ser escritor em um país em que as pessoas leem pouco? A verdade é que ser escritor no Brasil é um ato de amor e\ou obsessão pela arte de escrever. Por isso compreendo a rejeição inicial da minha família à minha ideia de me dedicar à escrita de um livro de ficção. As famílias, em geral, aceitam, por exemplo, deixar um parente em casa durante dois anos para se dedicar, exclusivamente, à escrita de uma dissertação de mestrado ou tese de doutorado. No entanto, não aceitam, de imediato, a mesma situação se o resultado for escrever um livro de ficção.Mas, como disse, compreendo o posicionamento da minha família, afinal, vivemos em uma sociedade capitalista, em que devemos gerar lucro; e a arte - a verdadeira arte - não tem compromisso com o capital. Mas com o tempo, minha família aceitou a ideia de eu escrever ficção. Hoje, com a boa repercussão do meu livro e com o carinho de muitos leitores, minha família diz que só sente orgulho de mim, por eu ter me dedicado durante dois anos a um projeto que ninguém poderia me garantir se daria certo. Abrir-se à arte é mesmo "dar um salto mortal no escuro para que todos vejam", como já disse o escritor Affonso Romano de Sant'Anna. Sorte que minha família, hoje, sabe disso.
4 – Quais são as suas referências literárias e o que elas acrescentaram a sua escrita ?
Gosto muito de Vargas Llosa, García Márquez, Saramago, Kafka, Beckett, Hemingway, Cortázar. Entre os contemporâneos, aprecio muito a escrita de Sérgio Sant’Anna, Milton Hatoum, Ruffato, João Gilberto Noll, Ricardo Lisias, Daniel Galera, João Anzanello Carrascoza, Carola Saavedra, Antônio Carlos Viana, Maria Valéria Rezende. De alguma forma, esses escritores influenciaram o meu modo de escrever. Não dá para identificar o que, exatamente, cada um acrescentou à minha escrita. Sei que "roubei" um pouco de cada um deles. O dramaturgo Wilson Mizner disse certa vez: "Copiar de um autor é plágio, copiar de vários é pesquisa."
5 – Como você organiza sua rotina de escrita? Tem uma hora ou lugar preferido?
R: Citei uma frase de Clarice Lispector na primeira pergunta e a retomo agora. Certa vez, a escritora disse em uma entrevista: "Eu só escrevo quando eu quero, eu sou uma amadora e faço questão de continuar a ser amadora. Profissional é aquele que tem uma obrigação consigo mesmo de escrever, ou então em relação ao outro." Eu também escrevo quando eu quero. Não me imagino ainda escrevendo sob encomenda. E, no meu caso, escrever quando eu quero significa escrever praticamente todas as noites e madrugadas, períodos do dia em que me sinto mais concentrado, acompanhado por um estimulante: ou café ou Matte. De manhã e de tarde também sinto impulsos para escrever, mas em geral, rabisco rascunhos de ideias no bloco de notas do celular, para, de noite passar o texto a limpo. Prefiro escrever no meu quarto, em silêncio, quando penso que todas as outras pessoas que têm que acordar cedo já estão na cama. Escrevo num modelo de teclado em que os botões tem mais relevo - aqueles modelos de teclados mais antigos -, que fica conectado ao laptop. Talvez essa seja uma esquisitice do meu processo de escrita.
6 – Como você reage as críticas ao seu livro e de que forma influenciaram na escrita ?
R: Todo escritor deseja que sua obra seja bem recebida pela crítica especializada e pelo público leitor. Esse desejo de aceitação ocorre com profissionais de qualquer área. E comigo não é diferente. As críticas positivas são como empurrões dos leitores, como se eles dissessem: "Vai, continua." E isso me deixa mais motivado a escrever. Se recebo uma crítica negativa, penso que meu livro está exposto a leitores de diversas idades, com variados gostos. Uma pessoa que gosta, por exemplo, de ler o gênero fantasia, provavelmente, não vai amar o meu livro. Assim suponho. Se recebo uma crítica negativa, penso que o livro não foi escrito para aquela pessoa. Pois aprendi em uma oficina literária - e concordo com a ideia - que não é o leitor que escolhe o livro\autor que vai ler e de que vai se tornar fã, mas sim, o autor que escolhe, antes mesmo de escrever sua obra, o leitor do seu livro. Essa minha argumentação fica clara se eu der como exemplo o livro "Evangelho segundo Jesus Cristo", do Saramago. O início da obra é imensamente maçante, muitos leitores ávidos por cenas cheias de ação, com explosões e tiroteios, o abandonam. Saramago, ao escrever essa obra de tal forma, seleciona as pessoas que ele deseja que leiam o livro. Mas não pensem que estou me comparando ao Saramago.
Claro que não! Se recebo uma crítica negativa, não penso que sou um gênio incompreendido. Em vez disso, aceito-a e penso como posso aproveitá-la no desenvolvimento dos meus próximos projetos. Se recebo uma crítica negativa, penso que o mais importante para o escritor é sentir o prazer do processo de escrever, sem se preocupar com resultados, mesmo sabendo que avaliações positivas são importantes para despertar o interesse de outros leitores para ler seu romance. Mas os meus leitores, até agora, foram muito bonzinhos comigo.Quase todos com os quais eu falo pelas redes sociais me dão parabéns pela obra e dizem que querem ler meus próximos livros. Falam de que modo o "Memórias da infância..." os tocou. Em geral, não revelam o que os desagradou. Meus leitores realmente são muito bonzinhos comigo.
7 – Seu livro está em e-book quando pretende lançar o físico? Quando?
R: A minha ideia inicial era publicar o livro apenas em formato digital na Amazon. Dessa forma, pensei, posso atingir um maior público e colocar o preço do livro abaixo do padrão estipulado pelo mercado editorial. Mas muitos leitores começaram a perguntar quando eu lançaria o livro físico. Então, sobre esse assunto, revelarei mais detalhes, por meio das redes sociais, mais para frente. Só posso adiantar que em breve teremos novidades para os leitores que preferem livros impressos a e-books.
R: A minha ideia inicial era publicar o livro apenas em formato digital na Amazon. Dessa forma, pensei, posso atingir um maior público e colocar o preço do livro abaixo do padrão estipulado pelo mercado editorial. Mas muitos leitores começaram a perguntar quando eu lançaria o livro físico. Então, sobre esse assunto, revelarei mais detalhes, por meio das redes sociais, mais para frente. Só posso adiantar que em breve teremos novidades para os leitores que preferem livros impressos a e-books.
8 – Você aceitaria que o seu livro fosse adaptado para um filme ou uma série ?
R: Com certeza. Qualquer meio que possibilite que minha história alcance mais pessoas será bem recebido por mim.
9 – Você tem outros projetos de livros ou contos em andamento? Pode contar um pouco sobre eles?
R: Sim. Participo de um grupo literário chamado "Os Quinze", que se originou em uma oficina, na Estação das Letras, ministrada pelo escritor e crítico literário José Castello. Já publicamos um livro de contos, em 2016, intitulado "Contágios", sob a coordenação do Castello. Recentemente terminamos de escrever nosso segundo livro de contos, que, dessa vez, tem como tema as relações familiares. Desse projeto, participo com um conto. O original agora está com o Castello, que escreverá a orelha do livro. O próximo passo será escolher a editora mais apropriada para publicar a obra, e que esteja interessada em publicá-la, claro. Em relação aos meus próximos projetos, escrevi a primeira mão de um romance, que agora está "descansando" um pouco, para eu retomá-lo em breve. Não tenho pressa. Me preocupo apenas com a qualidade dos meus textos. Infelizmente, não posso dar detalhes sobre esse novo projeto.
10 – O blog está com um projeto que incentiva a leitura e compra de livros nacionais. Indique para os nosso leitores cinco autores que você conhece para eles prestigiarem
R: Existem tantos livros nacionais muito bons. Vou dizer, então, os cinco primeiros que vierem à minha mente, que ainda não são tão conhecidos, e que os li recentemente, para não ser injusto com os outros: Carlos Eduardo Pereira, "Enquanto os dentes"; Aline Bei, "O peso do pássaro morto"; Mario Miranda, "Reflexões em um dia de velório"; Verena Cavalcante, "Larva"; e André Timm, "Modos inacabados de morrer".
11 – Para encerramos pedimos que deixe uma mensagem para os nossos leitores.
R: Em 2012 o autor best-seller Neil Gaiman subiu ao palco da University of the Arts na Filadélfia para fazer um discurso de formatura, com o objetivo de dividir com os formandos suas ideias de encorajamento sobre criatividade, bravura e força. Esse discurso foi transformado em livro, intitulado "Faça boa arte". Inclusive tatuei essas três palavras no meu pulso. Então deixo minha mensagem aos leitores: Façam boa arte. Pois ler é também um processo de criação. E, de preferência, façam boa arte acompanhados por autores nacionais, que são excelentes artistas.
Contatos com o autor:
Livros: Ebook|
Instagram: @hugopascottinipernet
E-mail: hugo.p.pernet@gmail.com
Por hoje é só pessoal! Espero que tenham gostado. Se tiverem alguma pergunta podem deixar nos comentários.
Beijos e Abraços❤