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Olá queridos, tudo bem? 
Hoje venho conversar com vocês sobre um livro que eu li para o Projeto Lendo Escritores Negros Brasileiros, criado pela Camilla Dias (Saiba mais). Ele faz parte da Categoria  02 - Clássicos, foi a leitura mais impactante e emocionate até agora, porque mostra a realidade da vida dos pobres moradores das favelas de São Paulo. O diário foi organizado pelo jornalista Audálio Dantas, que decidiu deixá-lo com todos os erros ortográficos da autora, para ficar mais realista e pasmem esse livro foi traduzido para 14 idiomas diferentes.

Sinopse: Como o título diz esse livro é realmente um diário, escrito pela autora brasileira Carolina Maria de Jesus, ela passou boa parte da sua vida moradora da favela Canindé em São Paulo (desocupada em 1960), com seus três filhos João José, José Carlos e Vera Eunice, ela trabalhava dia e noite como catadora de papéis, latinhas, ferros, madeira, etc; tudo que pudesse vender para sustentar os filhos, às vezes a fome era tanta que precisa catar comidas que pudessem ser consumidas do lixo. Um dia apareceu na favela o jornalista Audálio Dantas, que descobriu os diários de Carolina enquanto fazia uma reportagem sobre a Favela do Canindé, sentiu-se emocionado com o trabalho e resolveu publicá-lo. O dinheiro não foi muito para tirá-la da pobreza mas, à ajudou comprar um terreno e viver dignamente com os seus filhos até o fim dos seus dias.|Editora:Ática|Gênero:Biografia, Não-Ficção|Ano: 2013|Páginas: 200|*Livro do meu acervo pessoal|

O livro na verdade, é o diário da autora negra Carolina Maria de Jesus, escrito durante os anos de 1955 à 1960, período em que ela e seus três filhos José Carlos, João José e Vera Eunice moraram na favela do Canindé em São Paulo.  Nesse diário é mostrado com detalhes o dia-a-dia dos moradores das favelas e mesmo que os fatos narrados, tenham acontecido há muitos anos, até hoje ainda existem favelas e catadores de lixo em São Paulo e muitos outros estado, tenho certeza que a situação deles continua a mesma. Carolina tinha uma rotina bem rigorosa, precisava segui la para conseguir papéis e outros objetos que catava no lixo: acordava cedinho por volta das quatro ou cinco horas da manhã, pegava água pra fazer café para as crianças (quando tinha pó e açúcar) e quando tinha dinheiro comprava pão, arrumava os dois meninos mais velhos e os mandava para a escola. Depois pegava sua filha Vera Eunice e ia trabalhar no centro de São Paulo até meio dia, o pouco dinheiro que conseguia era gosto com o filhos, em nenhum momento ela comprou um sapato, uma peça de roupa ou sabonete para ela, tudo que fazia era “para” e “pelo” bem dos  filhos. 

O trabalho era pesado, cansativo e desgastante mas, ela fazia sem reclamar porque sabia que os filhos não tinham culpa da situação em que viviam e precisavam comer. Ela fez algumas amizades verdadeiras como a dona dona Julita, que sempre dava um prato de comida para ela e quando podia dava também alimentos para alimentar seus filhos, pois sabia que não era sempre que a amiga comia decentemente. O maior prazer de Carolina era ver seus filhos comendo bem, sempre que podia comprava carne e fazia um almoço decente para eles, que ficavam muito felizes e elogiavam a mãe. Outra alegria que ela sentia era ver os filhos indo pra escola, aprendendo a ler e escrever com dignidade porque, apenas com educação poderiam conquistar uma vida melhor. Em várias entradas ela dizia que seu filho João gostava muito de ler gibis, fingindo ser um dos personagens e se distraindo da vida miserável em que viviam.



Era perceptível que as pessoas da época sentiam nojo dos favelados e tinham prazer em vê-los longe dos seus comércios, tratando eles muito mal e às vezes cobrando valores absurdos por algum produto/serviço. Em uma entrada muito revoltante do diário, após trabalhar até a exaustão Carolina conseguiu 197,00 cruzeiros, tinha em mente comprar comida para vários dias mas, quando chegou no barraco seu filho José Carlos estava com muita dor de dente e pediu para ela levá-lo ao dentista, chegando lá o dentista cobrou um valor exagerado para atender a criança, levando quase todo o dinheiro que ela tinha conseguido. Em outra entrada, ela conta que foi comprar carne e banha no açougue mas, a atendente disse que não tinha nenhum dos itens pedido mas, neste momento chegou um chinês pedindo os mesmos produtos e foi atendido cordialmente, a diferença nos atendimentos eram enormes e exagerados.

Mesmo em meio a tanta dor, tristeza, miséria e fome na favela ainda havia espaço para o amor, desde o início do diário ela conta sobre o amor que o sr. Manoel sente por ela, e do romance que os dois tinha, enquanto ele estava interessado em casar e construir uma família com ela, a mesma, não tinha essa ambição. Queria apenas cuidar dos filhos e retirá-los da miséria em que viviam. O que mais me revoltou durante a leitura foi a atitude dos favelados, todos estavam na mesma situação e vivendo os mesmo problemas todos os dias mas, eles faziam questão de serem ruins uns com os outros. Todos os dias aconteciam brigas na favela, uma mulher dava em cima do marido de outra mulher, ou um homem tentava matar outro homem da favela, e assim, nunca tinha um dia de paz naquele lugar. Em algumas passagens, a autora ainda conta sobre o ciúmes que a mulheres brancas da favela sentiam dela por saber ler e escrever, por não depender de homem e criar sozinha os filhos, muitas dessas mulheres faziam maldades com os filhos de Carolina, quando ela saia para trabalhar. A maldade humana não tem cor, status social ou religião.

Foi muito difícil para mim, concluir a leitura desse diário eu ficava pensando em todas essas situações e como posso ajudar as pessoas que ainda vivem dessa maneira. E é por essas e outras histórias que sempre falo para os meus alunos serem agradecidos por tudo que têm, porque existem no mundo pessoas que passam mais dificuldades do que eles. 

Espero que vocês tenham gostado da resenha. Vamos conversar sobre o livro nos comentários? Deixe sua opinião, que vou amar respondê-la!
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16 Comentários

  1. Oi Viviane!!

    Realizar leituras de vivência negra é sempre muito difícil, principalmente sendo negro em de certa forma sendo "mais privilegiado" do que outras pessoas da comunidade! Eu entendo bem o seu sentimento em relação a leitura, as vezes eu acho que é por isso que demorei tanto a começar a ler livros do gênero, por que sei que vai ser um leitura difícil e dolorosa. A sua resenha está linda!

    Beijos!
    Eita Já Li

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    1. Oi Alisson, concordo com você é muito dificil saber que o irmão ao lado está passando por tantas dificuldade e a gente não pode ajudar!

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  2. Olá, tudo bem? Entendo sua angústia enquanto leu, porque acho que seria algo que também me incomodaria e daria raiva. É triste ver relatos desse estilo e perceber que talvez muitas coisas não mudaram ainda né?! Eu como moradora próxima de favelas, de pessoas com uma realidade completamente diferente da minha, e ciente disso, sinto que às vezes não evoluimos nada. Uma pena. É uma leitura com certeza fora da minha zona de conforto, mas que queria realizar. Ótima resenha!
    Beijos

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    1. Oi Ana, eu não imaginava que as pessoas poderiam ser tão ruins umas com as outras, ainda mais numa situação tão miserável quanto a que estão vivendo.

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  3. Oiii Viviane

    Nossa que leitura diferente e mega interessante, o que mais me chamou a atenção é a época retratada, uma sociedade diferente e que tratava as pessoas mais pobres de maneira bem dura. Deve ter sido uma leitura sofrida mesmo, achei super perspicaz o autor manter os erros de gramática, dá a impressão de estarmos mesmo lendo o diário originalmente, escrito daquela época. Adorei a dica.

    Beijos, Ivy

    www.derepentenoultimolivro.com

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    1. Oi Ivy, infelizmente apesar de ser numa época diferente essas situações acontecem até hoje! Precisamos continuar lutando todos os dias para mudar essa situação.

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  4. OI, já ouvi falar muito nesse livro e sou curiosa para ler ele. A autora parece ter vivido situações bem difíceis; como mostrado no diário, é mesmo revoltante como as pessoas brigam em vez de se ajudar. Ótimo post!

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    1. Olá Mari, viveu sim e morreu sem receber as honras merecidas! Por isso, agora estão fazendo tantas tiragens dos livros dela e homenagiando o seu trabalho, como uma forma de se redimirem pelos erros do passado.

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  5. a primeira vez que li sobre esse livro foi no blog poesia na alma, e sou curiosa em ler mas confesso que é bem assustador ler sobre uma dor tão real, não sei se nesse momento leria, justamente pela situação que estamos vivenciando.

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    1. Oi querida! Eu não vi a resenha desse blog ainda mas, vou procurar e ler o post dela. Recomendo que comece lendo aos poucos porque o mundo é assustador mesmo.

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  6. Adorei seu texto. Tenho muito interesse em ler essa obra, tanto pela qualidade e pelos elogios que sempre leio sobre quanto por Carolina ser minha conterrânea. Acho que deve ser uma obra difícil mas necessária e muito reflexiva.

    Obrigado pela dica e abraços!
    https://wallsbooks.blogspot.com

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    1. Oi Victor, que maravilha te encontrar por aqui! Espero que consiga ler o livro dessa autora em algum momento, para nós que somos negros é uma leitura muito importante.

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  7. Nossa, Vivi, parece ser uma leitura que arrebenta com os nossos corações! Eu fiquei curiosa para ler, imagino que seja uma experiência única.

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  8. Nossa, parece ser daqueles livros que a gente tem que se preparar para ler, né? Porque é cheio de carga emocional. Admito que ando fugindo de livros assim por enquanto, mas com certeza anotei a dica ❤️

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    1. Oi Maria, você estar certa esse livro tem um peso emocional muito grande! Precisamos preparar nosso psicológico antes de ler esse livro, porque vamos são muitas emoções envolvidas.

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